Desde que anunciou que estava de volta ao batente, Cher vem recebendo diversas críticas. Afinal de contas, uma cantora com seus sessenta e poucos anos cantando Pop é ou não é um alvo fácil para o senso comum? Obviamente. E é por isso que discuto o
gran tabu que o novo disco dessa guerreira traz: Pra trabalhar tem idade? Como uma boa
puer aeternus madura, Cher nos mostra que a jovialidade nunca morre. "Até hoje não sei o que é ser velha", disse a cantora. Após seis décadas nas paradas da Billboard, Cher, assim como Madonna, traz material novo num cenário dominado pelas novinhas e, sempre polêmica, atiça a língua dos ferinos com a capa em que se apresenta quase despida, loura e sensual como uma coelhinha da
Playboy. Sim, meus caros, uma sessentona fazendo disco com cara de novinha.
Cher vai além do que se espera. Em
Closer To The Truth ("Próximo à Verdade"), Cher segue divando com o auto-tune mais poderoso do que nunca, mas diferente das novinhas sem foco, onde o que importa e fazer hits e mostrar peito e bunda (Sim, tipo Katy Perry, Britney e tantas outras), Cher ainda aposta no conteudo lírico e na potência do que tem de mais curioso: a voz. Uma peça consistente com faixas memoráveis que você vai cantarolar por dias. A eterna queridinha do Sonny & Cher Comedy Hour reluz como uma Deusa do Pop atemporal. E é esse álbum tão polêmico que traz o elemento real do Pop: ele não envelhece, e a essência da mulherona Cher está nele, não a senhora e sim a moça com maturidade o suficiente para apresentar um trabalho impecável. Não é uma cópia das novinhas, é uma mulher mostrando como se faz para elas.
Clipe oficial "Woman's World"
O CD abre com a feminista
"Woman's World", o single chefe da obra. É uma música maravilhosa, extremamente dançante e ótima para a balada, uma pena o vídeo ter sido tão mal divulgado, taxado de simples demais (creio que a versão com as drag queens do RuPaul é muuuito mais legal). O vocal de Cher segue intacto, ainda que com a ajuda do Auto-Tune, mas logo ela revela: o mundo é das mulheres, são elas mesmo que dominam o cenário musical e curiosamente, são quem tem prazo de validade. Se um cantor homem envelhece ele é taxado de maduro, bom e melhor. Se uma cantora envelhece, ela simplesmente fica velha. E aqui, Cher mostrou que não é bem isso. Em seguida, o novo hino que deve ficar na cabeça de várias mulheres, drag queens e gays,
"Take it Like A Man", é muito boa, dance, estilão dancefloor. Me lembra os bons tempos de "Take Me Home" e "Believe".
Woman's World RuPaul Drag Race Version
"My Love" tem uma letra forte e é dance ainda, outra faixa aproveitável. As minhas favoritas vem logo depois, o cover
"Dressed to Kill" (que por acaso vai nomear a turnê dessa delícia) e
"Red". As letras de ambas são grudentas, dançantes e maravilhosas. Pop de primeira, cheio de efeitos.
A nostalgia aparece em
"Lovers Forever", tanto na letra quanto no ritmo. É facilimo lembrar a era disco encontrando a era moderna. "I Walk Alone" traz um ritmo gostosinho country, é bem facil imaginá-la ao vivo. A letra é maravilhosa, escrita por P!nk, uma cantora que Cher particularmente admira. P!nk é realmente próxima de Cher no estilo, elas focam no vocal e na qualidade do ritmo. Woman Power na certa.
A lentinha
"Sirens" (sobre o 11 de setembro) tem seu conteúdo dramático brilhantemente interpretado e logo dá lugar para a agitada e atemporal
"Favorite Scars", que também particularmente é uma favorita. A balada
"I Hope You Find It", que já é single na Alemanha, tem uma letra maravilhosa, Cher canta com o coração de uma mulher separada e forte, extremamente sutil. Se ganhar vídeo, vai ficar linda.
"Lie To Me" também tem uma pegada country, curiosamente também foi escrita por P!nk (que assina ambas as canções como Alecia Moore). É tocante e sensível, com a força de Cher. Fecha o álbum com chave de ouro.
Trecho do filme "Burlesque" (2010, Screen Gems)
A versão deluxe traz as ótimas
"I Don't Have to Sleep To Dream",
"Pride" e a clássica
"You Haven't Seen the Last of Me", sim, o musicão épico está presente nessa versão do disco. Uma tacada certeira de Cher, afinal, "You Haven't Seen the Last of Me" é a música que define a carreira dela, com seus altos e baixos. Brilhantemente escrita por Diane Warren.
"The Greatest Thing", a colaboração com Lady Gaga, ficou de fora, uma pena, mas com tantos tesouros que Cher apresenta, nem sentimos muita falta, vai.
Closer To The Truth é, sem dúvidas, um dos melhores álbuns pop da atualidade, devemos agradecer por receber essa obra tão lendária e bem preparada. Será o último? Não sabemos, talvez nem a própria Cher sabe. Mas de qualquer forma, é sem duvidas, um dos melhores da carreira dela e do cenário atual. Se for bem divulgado e trabalhado com singles legais (eu apostaria em "Dressed To Kill", "Red", "I Walk Alone" e "Take it Like a Man"), além de uma turnê bem produzida como as anteriores dela, Cher tem aí uma obra de arte para marcar seu trabalho na Terra. As drag, travestis, perfomistas, gays, mulheres e até homens, vão ter muito o que dançar agora nas pistas! =)
Até a próxima ;)